Por Ana Sarah Melo
Isla de França
Maria Clara Marques
Com a sociedade ainda enfrentando os impactos que a Covid-19 deixou, uma questão gerou inquietação no cenário Pós-Pandêmico: o aumento de doenças mentais. O medo de se infectar e transmitir o vírus para as pessoas próximas permanece, além de sentimentos como tristeza e solidão devido às memórias do confinamento, afetaram diretamente o bem-estar emocional da população brasileira. “Houve um aumento de doenças psiquiátricas, a saúde das pessoas ficou bem comprometida até os dias atuais” afirma a entrevistada, a médica Rebeca Rocha, que atua no Hospital Universitário Lauro Wanderley, em João Pessoa.
Durante o período de isolamento social, foram deixadas marcas profundas e persistentes em cada indivíduo. Desconfiança, incerteza e medos, entre outros vários problemas de saúde mental afetaram comunidades do mundo inteiro. Muitas pessoas passaram por perdas, o que agrava esse cenário. Houve uma privação de velar seus entes-queridos, um luto em um contexto totalmente atípico e duradouro.
No Brasil, ao contrário de países como a Inglaterra, por exemplo, onde o número de doenças mentais diminuiu, a frequência já se encontrava alta. Foi comprovado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) que mais de 4 entre cada 10 brasileiros tiveram problemas para lidar com a ansiedade durante este período e quem já tinha essa condição piorou drasticamente.
Aumento de 90,5% nos dados de depressão
De acordo com estudo feito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), houve um crescimento de 90,5% nos casos de depressão desde o início do isolamento social no Brasil. Os sistemas de Saúde Mental já estavam sobrecarregados antes da pandemia, mas após o aumento desses casos houve uma demanda além do limite. As limitações de mobilidade durante esse período dificultaram o acesso da sociedade aos Serviços de Saúde Mental, comprometendo a qualidade do atendimento prestado e contribuindo gradativamente para um sistema de saúde insustentável.
Com o crescimento das demandas, os profissionais de saúde tiveram que enfrentar condições desafiadoras em relação a esse trabalho, acarretando a dificuldade para atender novas demandas e manter uma qualidade no atendimento. As consequências são significativas tanto para quem presta o serviço, quanto para os pacientes que dependem desse tipo de atendimento para manter uma saúde mental equilibrada.
Aumento de 25% na prevalência da ansiedade e depressão
A Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu um alerta durante a pandemia para todos os países intensificarem seus serviços de saúde e de apoio à saúde mental. A pandemia de Covid-19 desencadeou um aumento de 25% na prevalência de ansiedade e depressão em todo o mundo, segundo dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e 65% dos países relataram suspensão nos serviços essenciais de saúde mental e uso de substâncias em 2020. Esse índice caiu para 14% no início de 2023.
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O aumento não só nos casos de ansiedade e depressão, mas também de outros transtornos mentais que tiveram seu início durante a pandemia e se estenderam até o período pós-pandemia, pode ser atribuído às mudanças bruscas na vida e no trabalho das pessoas que, por consequência, trouxeram impactos para a saúde mental.
Nós, seres humanos, precisamos interagir com outras pessoas, precisamos da socialização e do convívio com o outro, o que dificultou e se tornou não recomendável no período pandêmico. De certa forma, eram previsíveis os efeitos que esse isolamento teria nos indivíduos. Contudo, mesmo quando o perigo maior havia passado e grande parte da população já retornava para as suas rotinas, muitas pessoas ainda se viram ansiosas e temerosas sobre se seria realmente seguro retornar às suas atividades rotineiras. Esse é um reflexo claro de como todo o pânico gerado teve efeito sobre a sociedade.
“Síndrome da gaiola”
Outro fenômeno que se tornou bastante conhecido foi a chamada “síndrome da gaiola”, “síndrome da cabana”, ou “síndrome do caracol”. Não é uma doença ou transtorno mental, mas é causada pelo distanciamento social prolongado que gera um estresse adaptativo nas pessoas fazendo-as passar por dificuldades emocionais ao ter que sair de sua casa e voltar às atividades presenciais, seja na escola, no trabalho, no comércio, nas consultas médicas ou na ida ao banco. São pessoas que, diante da flexibilização das medidas de segurança, com o fim do distanciamento social, sentem-se ameaçadas, inseguras e com medo de sair de casa.
A realidade pós-pandemia
A coordenadora da Comissão Nacional de Enfermagem em Saúde Mental (Conasem/Cofen), professora Dorisdaia Humerez, afirma que “o aumento nos transtornos ansiosos e depressivos é uma tendência dos últimos anos, mas atingiu patamares muito mais alarmantes após a crise sanitária”. Saúde mental não significa apenas a ausência de transtornos psicológicos, mas sim ao bem-estar dos indivíduos, que está diretamente ligado ao comportamento deles. As sequelas da Covid-19 foram tão fortes que há quem diga que se vive uma segunda pandemia, agora das emoções.
Durante esse período, houve diversos profissionais que ofereceram descontos no valor de suas sessões devido a tudo que estava acontecendo, além disso, o serviço online avançou bastante nessa área também. Em muitas ocasiões, aquele atendimento online com um psicólogo era o primeiro momento em que alguém que mora sozinho estava interagindo com outras pessoas durante a semana inteira.
Ainda há um longo caminho a ser percorrido e melhorado pois, a banalização dos transtornos mentais ainda existe, basta abrir os comentários de alguma publicação nas redes sociais que retrate o tema para ver o desconhecimento e o preconceito das pessoas acerca desse tema tão primordial.
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